Erva Brava (Paulliny Tort)
As doze histórias que compõem Erva Brava orbitam ao redor de Buriti Pequeno, cidade fictícia incrustada no coração de Goiás. Paisagem rara em nosso repertório literário, o Centro-Oeste brasileiro é palco de embates silenciosos, porém aguerridos, retratados com sutileza e maestria. Regida pelo compasso da literatura — que se ocupa de levantar perguntas, mais do que oferecer respostas —, a escritora brasiliense Paulliny Tort evidencia o nervo exposto de um país que desafia todas as interpretações.
Estão ali as relações patriarcais como a de Chico e Rita, em “O cabelo das almas”; a monocultura da soja que devasta o cerrado; o clientelismo rural que separa mãe e filha em “Matadouro” e a religiosidade sincrética de Dita, protagonista do conto “O mal no fundo do mar”. O rico encontro entre as culturas indígena e afro-brasileira também está em todas as histórias, as festas populares, como o cortejo de Reis. E, num conto final que coroa o livro como poucas coletâneas conseguem fazer, está também a revolta implacável da natureza diante da ação predatória do homem em “Rios Voadores”.
A precisão e a cadência do texto nos convidam a ler em voz alta a prosa cristalina e imagética de Paulliny Tort. Por trás de uma escrita despretensiosa como os personagens de seus contos, ela revela a ironia necessária para dar conta, sem caricaturas ou preconceitos, de um país cruel e encantador.
A obra foi finalista do Prêmio Jabuti 2022 na categoria Conto. Essa edição do Clube de Leitura ocorreu em 29/04/2024.